07/07/2010

Robô disfarçado de filhote de foca acalma idosos em asilo nos EUA


Nada que Eileen Oldaker fizesse acalmava sua mãe, quando esta lhe ligou do asilo, desorientada e aflita, na fase inicial de demência senil. Então Oldaker desligou, ligou para a sala das enfermeiras e suplicou que elas levassem Paro para sua mãe.

Paro é um robô na forma de bebê foca. Mexe as patinhas e faz barulhos se é acariciado, abre os olhos se ouve ruídos e choraminga se é segurado de cabeça para baixo.
Microprocessadores sob o pelo ajustam seu comportamento com base em dados transmitidos por sensores de som, temperatura e toque.

Paro se anima se ouve seu nome ou é elogiado e, com o tempo, reage a palavras que ouve com frequência.

“Oh, é meu bebê”, exclamou a mãe de Oldaker, Millie Lesek, quando uma funcionária lhe entregou a foca.

Paro é um entre um punhado de robôs que assumem formas às vezes esdrúxulas e primitivas, mas que, ao menos para alguns de seus primeiros usuários, se mostram cativantes.

MÁQUINAS PARCEIRAS
Construir uma máquina que satisfaça a necessidade humana de companheirismo tem se mostrado difícil.
Mesmo assim, alguns aparelhos aproveitam a ternura inata que muitas pessoas têm por objetos que parecem sentir -ou que precisam de alguém que cuide deles.

O surgimento dessas máquinas em asilos, escolas e salas de estar vem dando combustível às fantasias de ficção científica sobre máquinas com as quais as pessoas podem se relacionar.

Similar à terapia com animais de estimação, Paro pode ajudar pacientes alérgicos, ou mesmo os que não o são.

Ele não precisa ser alimentado, não morde e, em alguns casos, pode ser uma alternativa à medicação.

Mas alguns críticos veem esse uso de robôs como indicativo do status baixo dos idosos, especialmente dos que sofrem de demência.

A psicóloga Sherry Turkle, do Instituto Massachusetts de Tecnologia, diz que vai se tornar cada vez mais tentador substituir a presença de um familiar, ou amigo real por Paro ou outro robô. “É apenas o começo”, disse ela. “E depois? Por que não um robô que lê histórias para seu filho? No final, quais de nós vão merecer pessoas de verdade?”

De acordo com Takanori Shibata, o inventor de Paro, parte da atração da foquinha se deve a um truque robótico. Como a tecnologia não era suficiente para imitar com precisão um animal específico, Shibata escolheu um com o qual poucos têm familiaridade. “Elas pensam em Paro como um animal vivo”, disse.
Tradução de Clara Allain

Publicado na Folha de São Paulo de 06/07/2010 (Folha.com)

NOTA DE INTERESSE DA MATÉRIA
Nas aulas de hermenêutica jurídica no Mackenzie, examinei o confronto entre a interpretação singela, literal da lei e a repercussão de sua intenção, além de outras formas mais sofisticadas de sua interpretação, apresentando, a título de exemplo, a autorização de acesso de animais em locais públicos; Rereferi-me também
 a outros seres além de cães-guias, cuja autorização é expressa em lei. Falei da capacidade terapêutica de outros animais e plantas. Não encontrei, naquela momento, matéria sobre o tema. O acima indicado expõe uma face mais interessante do problema, que é a substituição simbólica de animais por máquinas, enfrentando a questão da imagem coletiva de um ser em contraste com a lei e sua serventia. Ótima conversa! Fica para registro de quem de interessou sobre o tema.